De acordo com o site oficial dos Alcoólicos Anônimos (AA), os Doze Passos “consistem em um conjunto de princípios, espirituais em sua natureza que se praticados como um modo de vida, podem expulsar a compulsão pelo beber destrutivo e possibilitar que o indivíduo tenha uma vida íntegra, feliz e útil.”
Mas o que são os Alcoólicos Anônimos? Trata-se de uma organização internacional de ajuda mútua na recuperação para dependentes de álcool. Com mais de dois milhões de adeptos em todo o mundo, a iniciativa é gratuita, independente e foi base para criação de outras organizações similares, como os Narcóticos Anônimos (NA).
Apesar da ênfase religiosa/espiritual do AA, o CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) divulgou estudos do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos que demonstraram que quando comparado às intervenções de última geração, o modelo dos Doze Passos produziu ótimos resultados no que se refere à abstinência sustentada e a remissão, além de ser uma opção de baixo custo.
Como funcionam os encontros?
O programa parte da premissa que a melhor pessoa para ajudar um dependente do álcool é aquele que passou por problemas semelhantes e que agora controla sua sobriedade. Logo, a troca de experiências e interação uns com os outros promovem um ambiente seguro e livre de julgamentos, incentivando a participação ativa dos usuários nos encontros.
Esses encontros reúnem homens e mulheres de diversas idades que tiveram perdas significativas em suas vidas, com objetivo de manter a si e aos outros longe das bebidas mesmo em situações como “beber socialmente”. Vale lembrar que o alcoolismo e a dependência de substâncias são definidos como doença crônica pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e não apenas como um desvio de caráter.
Quais são os Doze Passos?
Primeiro Passo
“Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.” O primeiro passo é baseado na admissão da impotência pessoal perante o álcool e também propõe refletir sobre questões relacionadas ao ego.
Segundo Passo
“Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.” Após se depararem com o próprio descontrole, os dependentes são levados a preencher o vazio ocupado pelo álcool com práticas de espiritualidade que não se ligam a uma religião em específico.
Terceiro Passo
“Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.” Nesta etapa, são trabalhados temas como boa vontade, fragilidades pessoais e a necessidade de outras forças para auxiliar nos momentos difíceis (A.A, Deus, familiares, etc).
Quarto Passo
“Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.” Na prática, significaria observar feridas emocionais e a partir daí, buscar uma consciência maior sobre elas e como curá-las.
Quinto Passo
“Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.” Diz respeito ao relato transparente de todas as falhas que, por instinto, são escondidas das pessoas de convívio. O intuito é a busca pelo recomeço e o perdão consigo mesmo.
Sexto Passo
“Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.” Nesta etapa, sabendo de suas fraquezas, o dependente se decide e reafirma seu novo modo de vida.
Sétimo Passo
“Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.” O sétimo passo traz reflexões sobre humildade, satisfação própria, medo, orgulho e outras questões intrinsecamente ligadas ao alcoolismo.
Oitavo Passo
“Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.” Nesse momento, as relações interpessoais viram pauta e o dependente deve refletir sobre as pessoas que decepcionou e reconhecer os erros.
Nono Passo
“Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.” Partindo da etapa anterior, são discutidos em que momento e até que ponto buscar a reconciliação para não causar mais danos aos que já existem.
Décimo Passo
“Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitimos prontamente.” O décimo passo leva o alcoolista a começar a se submeter ao modo de viver de A. A. em qualquer situação e fazer uma análise constante de si e suas atitudes.
Décimo Primeiro Passo
“Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.” Como está dito, é a hora de valorizar momentos de silêncio e assimilar conceitos como disciplina, auto-aceitação e reflexão.
Décimo Segundo Passo
“Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.” Trabalha temas como gratidão, disposição para servir aos outros, generosidade para que os passos possam ser levados adiante.
Como a clínica de recuperação introduz o modelo Doze Passos na internação?
A clínica de reabilitação não permite a saída do dependente químico para frequentar a reunião, mas adota o sistema que chamamos “Simulado de NA/AA” onde são realizadas reuniões com os pacientes assemelhando-se a uma reunião real de Narcóticos Anônimos e Alcoólicos Anônimos.
Dessa forma, além das reuniões terapêuticas onde os Doze Passos são estudados, nos simulados de NA/AA são colocados em prática introduzindo o novo paciente a uma metodologia eficiente que o ajudará muito no pós tratamento.
Embora pareça uma trajetória difícil, os Doze Passos são uma excelente forma de buscar o autoconhecimento e desenvolver a espiritualidade, a fim de atingir um estado de consciência que permita um novo estilo de vida, mais saudável e feliz.